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Uma definição para o Grupo Operativo...

                   Pelo estudo em história da Educação legitima-se a constituição de uma escola tradicional que não favoreceu a cultura da formação de grupos. Visto que vai a desencontro de políticas autoritaristas ou linhas ideológicas de que o professor era o detentor do saber e o aluno mero receptáculo. Assim, de forma subjetiva o indivíduo aprende a abster-se da formação grupal, e não aprende o convívio em grupo. Visto que é necessário expor-se em ambiente social, gera-se aí, grande  desconforto aos educandos. 

                    Este trabalho conseguir interligar, ao menos, três linhas de estudo que convergem em sua ideologia e em sua didática, a fim de elaborar um método com aplicabilidade na escola e que sanasse as dificuldades do educador em implementar, em suas aulas, a construção de grupos transformadores de uma realidade (grupo operativo), com a metodologia da pesquisa-ação (educador fazendo parte da construção do projeto) e ainda atrelar a mudança de paradigmas em relação as situações heteronormativas presentes, quase sempre, subjetivamente no ambiente escolar.

                Em relação a construção grupal, existem muitas vertentes ideológicas, mas este trabalho professa a linha mais disseminada na América Latina, dentro dos estudos da Psicologia Social. Assim, para estabelecer e legitimarmos, neste trabalho, o que é um grupo usa-se a definição de Pichon-Rivière:

O grupo operativo é um grupo centrado na tarefa que tem por finalidade aprender a pensar em termos da resolução das dificuldades criadas e manifestadas no campo grupal, e não no campo de cada um de seus integrantes, o que seria uma psicanálise individual em grupo. Entretanto, também não esta centrada exclusivamente no grupo, como nas concepções gestálticas, mas sim em cada aqui-agora-comigo na tarefa que se opera em duas dimensões, constituindo, de certa forma, uma síntese de todas as correntes (PICHON-RIVIÈRE, 1998, p.143).

 

A Figura 1 clarifica o passo-a-passo, de forma simplista, a construção grupal operativa:

Figura 1: Esquema simplificado do que é um grupo operativo. Fonte: Autora

Momentos da Tarefa grupal

                     Como nas mais diversas atividades humanas organizadas, o grupo também requer uma estrutura para dar aplicabilidade aos seus procedimentos. Visto que temos um início, um desenvolvimento e um fim nestas atividades. Estas são denominadas, na proposta de Pichon, por três momentos: pré-tarefa, tarefa e projeto. Segundo a pesuisadora, em psicologia social, Jaci Raj, os dois primeiros momentos, automaticamente, se efetivos, culminarão no terceiro (exemplo na Figura 2):

Na pré-tarefa encontramos as técnicas defensivas que estruturam a resistência à mudança. Aqui, o pensar, sentir e agir estão dissociados e o sujeito se entrega ao “como se”, o que lhe permite passar o tempo, não elaborando os medos básicos, o que lhe possibilitaria ocupar-se da tarefa. Para passar da pré-tarefa à tarefa é necessário um salto qualitativo; O momento da tarefa é quando são elaboradas as ansiedades básicas e se rompem as estereotipias. Isto permite ao sujeito um contato ativo com a realidade e a elaboração de estratégias e táticas que possibilitarão o aparecimento de um projeto (RAJ, 1983, p.69).

Figura 2:  Os vetores se complementam para que a ação se concretize. Fonte: Autora

Sobre os papéis no grupo

                    Existem no grupo modelos de papéis que são relativos às condutas de alguns indivíduos dentro da ação grupal. Estes papéis são assumidos. Segundo Raj (1983, p.71), “O papel assumido é o que produz menos ansiedade, assim como o papel desprezado seria o que produz mais ansiedade”, ou seja, os integrantes assumem papéis de acordo com suas características pessoais, sendo estas mais cômodas e indicam outros a um papel que julgam mais compatíveis.

Estes papéis podem ser classificados por Funcionais, que estão mais centrados na tarefa e buscam a coesão grupal e os Disfuncionais, que respondem mais as necessidades pessoais do que as necessidades grupais. Assim, cabe ao Coordenador do grupo explicitar tais posturas para que haja regulação.

                    Na construção do grupo operativo podemos encontrar uma constante de papéis que Pichon-Rivière denominou segundo sua ação, são eles o porta-voz, o bode expiatório, o líder e o sabotador (RAJ, 1983, p.72).

                    O Porta-voz é aquele membro que em certos momentos diz algo que tem significação grupal, sabe entender e detecta o que ocorre no consciente e até em nível inconsciente do grupo. Assim, o porta-voz denuncia atitudes e posturas dentro da tarefa grupal, havendo uma transformação ou resistência à mudança perante o grupo. Se o grupo não absorve tal postura, o porta-voz é segregado e transforma-se no bode-expiatório. Caso o grupo assimile a tal postura, o porta-voz passa a líder da situação. 

                     A Figura 3 demonstra como os papéis que vão se construindo dentro do grupo podem tornar-se efetivos ou prejudiciais a tarefa:

Figura 3: Papéis no Grupo Operativo. Fonte: Autora

O coordenador do Grupo é o Educador Popular

                    O educador pela natureza de sua profissão, que o estabelece como regente de uma sala de aula e que tem por público alunos em uma escola, tem em sua essência o direcionamentos dos trabalhos. Ele será o profissional adequado, na escola, para implementar os processos de constituição do grupo, mas sempre atento a uma proposta dialética.

                  Segundo Pichon-Rivière (1998, p.132) “o coordenador, com sua técnica, favorece o vínculo entre o grupo e o campo de sua tarefa, em uma situação triangular”. Portanto, este educador será o favorecedor da integração e da prática de seus alunos, visto que ele não direciona a ação na sala de aula, mas encaminha o convívio, estimulando a ação.

                     Segue, na Figura 4, um esquema que ilustra o trabalho do educador:

Figura 4: Características do Coordenador de Grupo Operativo. Fonte: Autora

                    O educador deve encontrar caminhos para que sua prática não influencie as decisões do grupo, mas que estabeleça situações harmoniosas nas tomadas de decisões e nos coerentes conflitos que se estabeleceram durante a pré-tarefa, tarefa e projeto. Na figura 5, a simplificação do objetivo grupal:

Figura 5: Objetivo do Grupo Operativo. Fonte: Autora

                    Portanto, o coordenador do grupo/educador que se professa dentro de uma perspectiva de construção de um projeto emancipatório são a mesma figura que, conseguirão promover práticas de estímulo à formação do grupo operativo, ou seja, que transformem a realidade heteronormativa do ambiente escolar.

REFERÊNCIAS

PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O processo grupal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

RAJ, Jaci. Grupo e Grupo Operativo. In: GAYOTTO, Maria Leonor C. A psicologia social de Pichon-Riviere. São Paulo; PUC/SP, 1983, p.63-74.

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